A arte abstrata me dá medo.
Você também tem medo de arte abstrata?
A pintura, na sua concepção, era vista mais como algo utilitário do que arte, o homem pré-histórico pintava nas cavernas para atrair a caça, afrescos eram pintados nas igrejas para encantar (e amedrontar), até os artistas renascentistas, representavam a natureza racionalmente, pelo valor cientifico.
Mas em 1826 o homem tirou a primeira fotografia, o que era necessário anos de prática, podia ser feito por qualquer um, em um só clique.
Se a pintura é apenas uma ferramenta para representar o real, para que ela serve?
Perceber a pintura como arte ajudou ela a se desenvolver como tal, analisar a ação humana com esse viés utilitário, é muitas vezes um desserviço.
Sem as amarras da realidade, pudemos criar algo novo. Só por causa disso podemos hoje apreciar Monet, Van Gogh, Salvador Dalí, Frida Kahlo e… Pollock?
Talvez… a gente tenha ido longe demais, como a gente chegou nesses borrões e pingos?
Francisco de Goya, um dos maiores pintores da Espanha, o último dos velhos mestres e o primeiro dos modernos, viveu na pele essa mudança. Após ter sofrido um AVC, morreu em 1828, dois anos após a primeira fotografia.
Mas em 1792, ele escreveu numa carta: “A natureza confunde e surpreende aqueles que mais a conhecem! Que estátua, ou molde, pode existir que não seja apenas uma cópia da divina natureza? Por mais excelente que seja o artista que a tenha feito, pode ele negar que, colocado-as lado a lado, uma é obra de Deus, e a outra de nossas mãos miseráveis?”
Essa frase não saiu mais da minha cabeça.
Agora, ao ver uma pintura abstrata, por mais que eu não a ache bonita, por mais que eu não consiga entender, não posso deixar de pensar que talvez, essa seja uma das únicas coisas que o ser humano pode “criar”.